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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O Dia que Baudelaire foi Traído




Ele havia traído Baudelaire
No dia em que conhecera a bunda da outra
- sacro altar!
Sonhava-o tão intocável – gênio do mal -

Essa outra, mais filha da puta que todas antes, olhos baixos
Usava-os rasteiros combinando com suas sinceridades
Costuradas num decote discretíssimo
Do vestido bem mais jovem que ela

A florzinha tinha gosto infinitamente triste,
Como a bad trip de cocaine e Jack Daniel`s
Ele disse para si, ainda sentado na sarjeta:
- as flores do mal não são tão mal assim, afinal!

Oh, gênio amedrontado das façanhas dos homens,
E belo como um só peixe em aquário, tua virtude
Sempre foi meu ideal! Agora, nesses dias, em que cuspo alto
Os amores imprudentes, meu esqueleto fragiliza.

E cego dos ouvidos entro em tua vida para exaltar
Esses flancos que me cessam. Respira-me!
Como um homem sem rancor que recuou do desfecho
Notório para o incógnito

A outra, o monstro, oculta engenhos sob as unhas e,
Ao primeiro sinal da presa confundida,
Suas garras saltam das carnes rasgando o que entorpeceu
Ele, se fazendo de inocente e o sendo, não via, mas sempre soube

Baudelaire. Baudelaire. Aproxima-me das sepulturas dos malditos
E deixe-me ouvir os lobos machos nas madrugadas pagãs
Porra meus olhos com socos, que estes já viram víboras
Surrupiarem sêmens de todos os homens, e por piedade...

Tire esse sorriso besta da boca!


domingo, 5 de janeiro de 2014

Batismo




Dei a ele outro nome, um bom nome ardiloso,
Desses que damos aos homens para salvá-los
Quando tentam ser infernais já no inferno.
Amor! Meu amor!

Seu rosto, após longa olhada, sacudiu o pó da memória
Sobreviveu
- quantos rostos levantaram da cama apagando a noite?
Mixas trepadas! Homéricas fodas!

Súbito a mulher avançou forte como um milagre
- sempre tive essa praga no sangue -
E aguou sua cabeça e têmpera. Ele não tentou escapar feito rato
Era um homem cheio de mentiras - eu sabia!
No entanto, nada podia contra minha esfinge

Eu, sem qualquer palavra, o havia batizado de homem,
Simplesmente um homem e nada mais,
E todos os outros nomes adormeceram como deveriam
Adormecer diante de uma montanha
Em silêncio

Descansei os lábios naquele ouvido primitivo
Uma vez, a serpente sibilando
Sempre e de novo, e de novo, e de novo, à língua.                                       
O veneno invadiu palavras dedos sangue,
Toda corja de coisas solitárias e famintas

Desatando os nós da censura, assim, como fazem os poetas,
Construí um tempo morto para vivermos do coração,
Sem ambulância ou materiais de primeiros socorros,
E nasceram feridas, constipações, insônias,
Pupilas dilatadas, suores, cheiros de pólvora e flores,
Outros dramas espartanos

Porém, por todas as noites cariocas, entre inferno e céu,
Ninguém jamais viu um registro de amor igual a este,
Deliberadamente, fatal e inesquecível


domingo, 20 de outubro de 2013

Poema Cínico para Tecidos Desconfiados




A cada palavra, uma desordem,
Um instinto de colisão dos corpos
- Meus poemas contra os teus se chocam –
E o caos é derramado sobre o chão
Alguns ridículos versos de amor,
E todos os são, rolam como novelos
- um fio pra lá outro pra cá –
E vão-se acabar nas bocas de dois gatos
Como é injusta essa disponibilidade felina!
Que importa?
As palavras nunca são aquilo que são
Há entre um dizer e outro
Mil intenções furiosas querendo rostos,
Como agora, quando cinicamente
Construo desejos na palma de tua mão
E digo que são apenas melodias poucas,
Roucas e sinceras

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Nove Vidas e Um Poema





Escreverei um tão inexplicável poema,
Sujas palavras de quem passa vulgar,
Que só aos mortos caberá prestigiá-lo
E quando vivos estiverem todos, o que é prudente,
Jamais o leiam, nem mesmo em pensamento,
Pois é meu costume alimentar os gatos
Com tragédias do amor e nove vidas.


sábado, 28 de setembro de 2013

Ruídos do Poema Invisível





Há essa pausa na cabeça
Que não é sono nem enterro
É uma palavra suficiente
Para que o poema seja invisível
E ele vai se apagando
Sumindo
Sumindo
Entre o que dói
E o que é dor
Não há nenhum pensamento
Sobre o tronco desta árvore morta
E nem sei se isso importa
Aos pássaros que não cantam
Atirei minhas canções
Num pasto de ausências sem fim
E elas secaram ao sol
Como bosta
Minha voz não pensa em espantos
Não pensa! Não Pensa!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Hora Parada




Chuva guarda a chuva
Não é hora de aguar
Meu ventre – ainda febril –
Da carne aumentada
Dele
Seja nuvenzinha
E passe

Vento cata o vento
Não é hora de dissipar
O cheiro – ainda úmido
Do gozo esbanjado
Dele
Seja inspiração
E transpasse-me

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Quando Eu Crescer





Ainda sou esta coisa brutal,
Mas logo cresço e
Serei criança que,
De tão mínima,
Passará despercebida
Entre as grades adultas
Das casas
Da bruxa e do lobo mau

sábado, 27 de abril de 2013

Boa Fé




Boazinha é a menina que dorme contigo
Sonhando outro corpo no corpo teu
Um corpo de Adão, peladinho, porém,
Mais sabido depois da maçã
Falo!
Deu a você presente caro,
Por bondade infinita no sangue,
Esse relicário, carne imparável
Que, de tão benigno tecido,
Chega a ser santidade
Ela, que é moça piedosa,
Ajoelha-se depressa e, com boca devota,
Oferece reza ao santo em pé
O milagre escorre
Santa fé! Da tua boazinha moça que,
Antes de acordar,
Batiza-se com nome exótico:
Puta

E assim, sonhando, é como seu amor a chama

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Olhos de Morcego





Quem trouxe essas mãos
Que me custaram os olhos
Da cara,
Não demora,
Vai confundir-se em mim
Vai perder seu retrato
Entre meus cabelos falsos
E, desassossegado,
Cairá de joelhos
Com dó de si
Quem mandou
Arrancar-me os pensamentos?
Canteiros que queriam
Ver-te
Água fresca
Seguir-te
Como girassol ao sol
De fogo
Quem trouxe essas mãos,
Precipitando domínio,
Mal sabe de mim
Que sou morcego
E vôo melhor
Na escuridão

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Gávea - Estrada de Escapadas





Tantas noites sonâmbulas de escapadas
O som da minha própria voz, na demo arranhada,
Lembrava canções que deveriam ser meu pão de cada dia,
Mas os novos padeiros não crêem mais no corpo de Cristo
Bando de filhas da puta comedores de descartáveis!
Agora só fabricam bizarras rosquinhas efêmeras

Tantas vezes arriscando o inesperado da curva:
Polícia! Bandido! Bandido-polícia! Esculacho!
Subindo a estrada da Gávea, com lenço e sem documento,
Para contemplar nossos abismos convenientes
Subindo sozinha, sóbria, até tocar o coração decadente do Umuarama
E encher a cara de cervejas, estrelas, luzes,
Como alguém inexato no interior do dancing

Lá, do alto, que é muito maior que tudo,
Toda a cidade mais parece uma nuvem de vaga-lumes adestrados
Que, hipnotizados com tanta beleza,                              
Piscam extasiados de espanto
Eis a fotografia do litoral cínico!

E eu que, sempre fui aquele vaga-lume sem bando,
Pousando sobre precipícios, cinicamente, forjava mortes populares,
Mas a língua, esse X9 incontrolável,
Salivava vontade capeta de viver

Pensava no poeta!
De Holanda,
No meu gosto por seus versos de homem
Tantas palavras ditas com astúcia feminina
Pensava em Chico!
Impressionava-me que, apenas, um homem
Pudesse guardar nos olhos tantas mulheres
- É da natureza das moças habitarem azuis melancólicos! –

Mas não é só isto, o trovador
Nele há um silêncio evidente de quem olha
Com o pensamento, demoradamente,
Tudo o que vê
E guarda como quem toca

E toca cada flutuação desse feminino
Com dedos de radiografia
Faces atormentadas, serenas, belas
Ou esquecidas;
Suas dores de ausências, de carpido;
Seus ventres desprotegidos, alguns cheios;
As cinturas com murmúrios de coisas terrenas;
Flancos criminosos confessos;
Súbitas alegrias irritantes saídas dos olhos como confusão

Pensava em Buarque porque era bom e era Gávea
Os dois precipitavam-me esquecimentos de cárceres,
Como se acordasse na pintura do artista sem vestido e relógio

Subia a estrada da Gávea como quem perde o caminho
E acha o beco. Destino!
Recolher os risos da cidade abaixo, e prendê-los nos lábios,
Enquanto os olhos desmantelam-se em lágrimas de amor por ela.


quarta-feira, 10 de abril de 2013

Face de Contorno Azulado





Deito a orelha na concha açoitada
Há mar de mil anos no interior do mistério
E pranto, canto, monstros
Chama-me, voz mansa,
Quase vulto.  Amor... Amor...
- Eis a ciranda que não revelei ao mundo,
Só a ti, desde que perdestes o primeiro anel de ouro.
Lembras?
Súbito cai essa palma de bruma irônica
Sobre os cabelos tingidos de dilemas.
A mão pesa ferro.
O prédio da memória desmorona
E, em ruínas, as lembranças se desnudam
Algumas fogem para terras virtuosas
De um país que ninguém nunca viu.
O restante multiplica-se como a humanidade
Que teme sua própria extinção.
Intimidades marítimas me tomam olhares,
Onda após onda,
Cordas afogadas, oferendas evocatórias,
Peixes defuntos, pescadores encantados
E esses destinos de vencer solidão
Meus olhos seguem pensando nesse corpo robusto,
Qual cavalo azul correndo em fúria,
Indo e voltando no exercício de suas alternativas
Os braços revoltos espumam iras que,
Ressentidas com ausências longas,
Cospem desprezos por desimportâncias 
Quanto desse desassossego me pertence?
Mas o que ouço é a fala memorável de meu dono
Água que domou meus fremes flancos
Com audácias e seduções ébrias
Lembro estrelinhas caídas do céu que, sobre epiderme líquida,
Pousavam em olhos submersos 
Ah! As peles inconstantes sempre recomeçando!
Estou aqui, maresia e, um tanto na eternidade,
Chamada pela paixão. O mar!
Inevitável é o caminho que tem essa face azulada

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Extravios (quase) Imperceptíveis







Quarenta anos depois,
No mesmo bar
Que servia arroz com Tatuí...
O gerente morto,
O cozinheiro trocado,
E, nunca ninguém viu mais
O bufão dono do bar

Nós dois que entrelaçamos, eternamente, 
Dedos sobre a mesa desassossegada, 
Muito longe das presenças
Sem a menor exatidão de existências,
Súbito perdemos os rostos e,
Por coincidência, no último beijo

E agora, quem é você calmo e triste?
E hoje, quem sou eu sem claridade?

As perguntas se movem até a parede
Tocando o espelho sem respostas
Somos dois estranhos,
Dois guardanapos amassados no tempo,
Constrangidos por extravios
E a procura das faces que foram pro lixo

Que ele não reparou
Que eu nem percebi

domingo, 31 de março de 2013

Caixa preta Cinza de Nós







Entre nossos destroços,
A caixa preta, cinza, esconde o crime
Não! Não viole nossos mistérios imorais, torpes mesmo!
As memórias do poema obcecado,
Sua alma imortal.
Jamais profane nossas faces,
Tudo o que fomos um dia, e eternamente,
Tudo está perpetuado pela morte
Então, por precaução, não exponha seus ouvidos
A visão dessa luxúria extasiante, sobretudo,
Não aspire seu cheiro
Há de se temer os que amam
Não! Não acorde os mortos
Que queimaram em sedas,
Pois seus sexos vazam
Gozos contamináveis
Não viole a caixa preta, cinza,
Boca suja com tampa de noite
Obscura
É que já houve mil assassinatos
Detrás dessa viagem inocente
De duas línguas incansáveis
E sem paz.


sábado, 30 de março de 2013

Developpe e o Balé do Desejo







Um pé de mulher
Balé
Joanetes, calos
Dançar é bom,
Mas o rodopio sai caro
Calo-te pés de tantos chãos
Esqueço-te os dias de faquir
Pisando em pregos
E lembro-te nas sedas das flores,
Apenas, por fetiche
Comeces teso a falecer de mistérios
E, do dedão obsceno suba estonteado
A escada do desejo
Até o último fio de cabelo magro,
Não acendas precipitações,
Meu amigo!
Descubra que o sangue
Da fêmea circula no centro,
Do centro, do centro
Dos lábios.
É lá que habita o inferno
Na forma de pequeno falo


quarta-feira, 27 de março de 2013

Algumas Fumaças de Hiroshima e outras Aberrações





A besta deseja infernos!
Zilhões de detonadores
Ocupam sua mente déspota
O bicho trama guerras por amor
A pele
Rasgada em gozo de brio
Seu corpo é perfeito
Espúrio íntimo que,
Alimentado por vícios cortantes,
Enamora-se do bonito e do medonho
Eis o homem, fera implacável!
Atando cogumelos da morte
Ao chão enfermo de insultos
Nuvens negras, dessas almas finadas, 
Que não chovem mais lágrimas,
Sobre as cabeças dos que erguem seus olhos
Ao deus sem rosto
Eis a insuportável ameaça da besta
Pairando sobre nós,
Cadáveres! Cadáveres,
Que ainda choram
Oh, Little Boy!

sexta-feira, 22 de março de 2013

Poema Suicida para Poetas Inocentes






O poema deveria andar de boca em boca
Feito felação, falação de vida alheia, drops
Inevitável obscenidade

Teria que ser pintado, ad infinitum, 
Nas portas dos banheiros sujos dos bares cínicos,
Nas molduras dos inúteis pórticos palacianos
E por todos os muros acadêmicos que fabricam insuficiências

Pense na poesia com sua aguardente hibrida
Invadindo o humano na veia, lentamente,
De gole em gole, embriagando olhares. Pense!

Nesse hábito de escarro

O poema deveria circular por baixo das saias
Das moças invictas e, sem motivo algum, sangrar
Das outras, moças distantes dos diários,
Que o poema bolinasse seus mamilos,
Quase todos tristes, até o desabafo

Carecia muitíssimo que os versos pousassem
Nas mãos punheteiras dos homens
- Todos sempre meninos competindo tamanho –
E lambessem, com licença poética, seus dedos bisbilhoteiros

O poema merecia ser declamado em via pública
Para ser beijado por todas as bocas
E, saindo de olhos pensativos rumo aos ventos amenos,
Seria multiplicado por mãos escancaradas
Mãos que carregam na pele marcas febris
Tanta celebração em nome dos caídos, dos farrapos,
Dos ausentes que desdobram suas almas
Porque é imprescindível voltar
E quando a polícia invadisse a praça, com sua raiva latente,
A imensa paisagem estaria infância
Crianças balançando sonhos, apenas

O poema deveria ser lida e fornicação,
Criatura que habita o tudo e o nada que se vê,
Mas é só mais um suicida no asfalto

E os poetas, todos inocentes, aguardam o rabecão
Para o sumiço do corpo.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Do Muito de Rua ao Nada





Todo pouco é, antes de tudo, nada
O muito, ainda, mais nada se faz
Ando arrastando sombras, as mais toscas,
Pela distância do parto a paz
Caminho de estúpido inquérito, esse,
De quem sou. Semelhantes sombras serão?
E nenhuma alma diz-me o mérito
Desses passos escombrosos de ilusão.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Um Dia, Não Mais! Ou Uma Mulher Nunca Esquece Um Disparo






Ele entrega sua cara famosa

Na minha cara pálida de assombro

E me come, perigosamente,
Com olhos claros de cor sacana
Numa fração de segundos
Morro afogada nas mulheres
Que nasceram cantadas
Bárbara, Ana, Joana,
Iracema e tantas
Vândalas, depravadas,
As bem viadas, as travadas,
Lúcidas, insanas, santas
Fêmeas circulares que entram e saem
Do sangue, dos poros, para
Viverem papel de louca, o meu,
Em cena aberta. Merda!
E as notas das canções cobrindo o chão
De intimidades
Amores, amoras, poemas
Eu sem pés, sem boca
Como abraçar?
Aquele olhar de tropeço
Que cai dentro da gente
Súbita cortesia da vida
A uma mulher com memória
E agora?
Ele passa, repassa,
Como quem diz despedida
E sem graça, e ação, e serpente,
O deixo ficar em segredo no jeito de morrer
Fica, então, aquele gesto de arpão dele
O riso de disparo
 Meu mergulho em azuis de olhos molhados
Eu, totalmente, peixe

terça-feira, 12 de março de 2013

Ensaio para Impossibilidades Possíveis








Levanto-me na manhã que ontem implorei

- Oh, Deus, meu espírito é feito de bichos carniceiros!

- Quero tua existência, então!

Aquela que agasalha os corações dos vagabundos,

Enquanto os intelectuais a desprezam nas tintas sabichonas

Quero mil auroras douradas apontando crânios

E peles enrabichadas de outras peles

Tua piedade esclerótica, Senhor!
Pois à noite tenho fraquezas miseráveis

- é na escuridão que a matilha afia os caninos! –

Acordo no primeiro barulho de luz e, sob teto opressor,
Abro os olhos sujos das ânsias que pouco divulgo
No mesmo instante, há enfrentamentos brutais
Que contaminam a carne com palavras condenadas
Erguem-se labirintos birrentos
E é lá que habita o artista solitário

- já é hora de contrair o abdômen até a chegada do soco! –

Saio de casa com uma ilusão que jamais se emenda:
Esquinas povoadas por loucos que, delirando poemas,
Atiram versos nas quase vidas que passam
E a poesia, em estado de graça,
Segue infiltrando beleza nos subterrâneos fétidos dos homens,
De verso em verso, vencendo serpentes e paraísos

Ando. Tudo é áspero, poeirento e magoado
Ando. Pouco é luto, equilíbrio e fruto
Serei eu, então, a louca que protege a lira de Apolo,
Como mamãezinha amantíssima
Ou o mais estúpido fantasma renunciando razoabilidades?
Minha sombra ronda os estrondos da morte,
Porém, a face se assanha diante das impossibilidades
E cruza a linha do mundo visível
Deus, não levante contra mim palavras exatas
Que resistam aos suspiros voadores
Deixe-me viver sob tortura Dionisíaca e,
Se for sina essa lira embriagada, não me poupes à taça cheia
Saberei matar-me sobre as cartas de Pessoa a Ofélia,
Meu corpo pousado em cada sentimento,
Como um lenço silencioso tocando a pele úmida
E não há quem me impeça de invadir o poeta

Levanto-me!

Porque esse verbo, sempre, me parece impossível



domingo, 10 de março de 2013

Rota Imprevista para Mulheres sem Batom





Ela sabe de cicatrizes barulhentas e abertas que doem tripas, coração, mais cervical. Ela sabe de dores que não se grita nem propaga.

Nasceu fêmea de pai e de mãe e, pertencendo-lhe o mistério do ventre, não hesitou em abrir as pálpebras com coragem.

Mulher, de sangue exuberante e prodigioso, sua verdade é flama! Não temas arrastar pecados pelo chão, nem trame culpas, pois sua alma possui antídoto para venenos cínicos e é tão abundante que permanece nos frutos que nascem do fogo.

Saber-se enigma, dentro da própria casca, é dor inacabável, ainda mais quando raízes destemidas furam a terra e, respirando o mundo, se alongam até o céu. Mas o que é a menina senão dor de delícias?

Apenas as fêmeas sabem que é preciso, antes do alívio, queimar-se!

O certo para o futuro seria amputar qualquer idéia amorosa, já que adivinhara o final muito precocemente: solidão!
Havia essa canção que cantava desertos nas mãos e, chegou cedo, quando os ouvidos ainda estavam abertos.

Entre colecionar rotas mortas e caminhar por corpos adversários sua velha carcaça infligiu-lhe submersão e, no silêncio escuro do fundo, abrigou-se adequadamente, assim, as feridas não ofereceriam mais perigo de insônia.
O outono tombou sobre os cílios que, pintados de esquecimento, acostumaram-se ao sono, mas há um relógio moleque que desperta pálpebras e ele sempre berra

Cai-lhe, então, no colo, o acaso! Um menino que, pronto pra ser homem, dá de ri dessa mulher incrédula e desistida.
Risca-lhe o velho tronco com poemas encarnados. Ela gosta da cor! Que cabe nas unhas, que cabe na boca e no coraçãozinho que escondeu no estômago do oceano

Ela sempre acreditou que a dor fosse uma mulher sem batom!

Acreditou merecer essa desistência, afinal, já havia rompido com a feição e restara um fio de medo mais afiado que navalha de puta.

 Desprezou o imprevisível, sua alma! Esse lugar sem mapas que de lágrimas ri, que de silêncio grita, que de morrer nasce.
O menino a invade e, com pétalas na língua, ela flutua em encantos. Qualquer sentido ficaria guardado em um reino que ninguém jamais viu.

Ele tinha na cabeça o equador de todas as coisas e existia homem para fazê-la doce nas horas cítricas
Ele existia homem para fazê-la solta, numa simplicidade infantil, porque conhecia as pipas

Colheram estrelas que iluminaram o alfabeto do tempo, os dias de eternidades e dedos que escreveriam vidas sem cópias
Ele existia homem e ela o deixava ser!