Ela sabe de cicatrizes barulhentas e abertas que doem tripas,
coração, mais cervical. Ela sabe de dores que não se grita nem propaga.
Nasceu fêmea de pai e de mãe e, pertencendo-lhe o mistério do
ventre, não hesitou em abrir as pálpebras com coragem.
Mulher, de sangue exuberante e prodigioso, sua verdade é flama! Não
temas arrastar pecados pelo chão, nem trame culpas, pois sua alma possui
antídoto para venenos cínicos e é tão abundante que permanece nos frutos que
nascem do fogo.
Saber-se enigma, dentro da própria casca, é dor inacabável, ainda
mais quando raízes destemidas furam a terra e, respirando o mundo, se alongam
até o céu. Mas o que é a menina senão dor de delícias?
Apenas as fêmeas sabem que é preciso, antes do alívio, queimar-se!
O certo para o futuro seria amputar qualquer idéia amorosa, já
que adivinhara o final muito precocemente: solidão!
Havia essa canção que cantava desertos nas mãos e, chegou cedo,
quando os ouvidos ainda estavam abertos.
Entre colecionar rotas mortas e caminhar por corpos adversários sua velha carcaça infligiu-lhe submersão e, no silêncio escuro do fundo, abrigou-se
adequadamente, assim, as feridas não ofereceriam mais perigo de insônia.
O outono tombou sobre os cílios que, pintados de esquecimento, acostumaram-se
ao sono, mas há um relógio moleque que desperta pálpebras e ele sempre berra
Cai-lhe, então, no colo, o acaso! Um menino que, pronto pra ser
homem, dá de ri dessa mulher incrédula e desistida.
Risca-lhe o velho tronco com poemas encarnados. Ela gosta da cor!
Que cabe nas unhas, que cabe na boca e no coraçãozinho que escondeu no estômago
do oceano
Ela sempre acreditou que a dor fosse uma mulher sem batom!
Acreditou merecer essa desistência, afinal, já havia rompido com a
feição e restara um fio de medo mais afiado que navalha de puta.
Desprezou o imprevisível, sua
alma! Esse lugar sem mapas que de lágrimas ri, que de silêncio grita, que de
morrer nasce.
O menino a invade e, com pétalas na língua, ela flutua em encantos. Qualquer sentido ficaria guardado em um reino que ninguém jamais viu.
Ele tinha na cabeça o equador de todas as coisas e existia homem para
fazê-la doce nas horas cítricas
Ele existia homem para fazê-la solta, numa simplicidade infantil,
porque conhecia as pipas
Colheram estrelas que iluminaram o alfabeto do tempo, os dias de
eternidades e dedos que escreveriam vidas sem cópias
Ele existia homem e ela o deixava ser!
3 comentários:
esplêndido,
esplêndido
...
beijo-te
carinhosamente...
Já tava a sentir falta dos seus escritos mais longos e você me aparece com isso. Ira, vocêéde matar.
Lindo. A fêmea tem uma coisa de dor que eu ainda não entendo. Como que pedisse, meso que não goste. E quando gosta, censura.
Toda dor, quando aflita, não cabe bem na pessoa, mas a fêmea, me parece, prefere.
Espero que a fêmea em questão aprenda a flutuar e manter-se nas nuvens que esse menino a levou.
Nada mais gostoso que uma língua sabida.
Beijão <3
Olha só o comentário do Marcelo... demais!
Beijos.
Suzana Guimarães, a Lily
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