Por enquanto
O poema é só um feto de dor
Espinhazinha amarelada na face
Finjo escrever fotografia
De um rosto anônimo liso limpo
Finjo para evitar que vejam minha
Monstruosidade
Tento repassar esta afronta purulenta
Em outra cara menos desgraçada
Escamoteio a minha – de lama!
Como quem dichava pânicos
E saio gato escondido com rabo de fora
Tarde demais para encolher tuas mãos! Diz-me a poesia
O verso insiste em pronunciar
Antigo rosto familiar
Que me chama clama quase implora
Há um poema em contração, neste instante,
E a dor é infernal
Cabeça coroada. Expulsão!
Nasce a criatura à imagem e semelhança
De toda minha sordidez
O poema é sujo e berra meu nojo
11 comentários:
Amiga Ira, teu poema trouxe-me à mente o poema sujo de Ferreira Gular.
Colei o início dele aqui. Certamente tu o conheces, mesmo assim, eis aqui.
Poema sujo
(trecho inicial)
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul...
...............
Um abração daqui do sul do Brasil. Tenhas um lindo dia.
como gosto de um poema visceral!!
beijos muitos, Ira das mais brilhantes!
Fotografia metalinguística de primeira qualidade!
Beijo,beijo!
O poema pode ser sujo, mas é bonito assim mesmo. Além de tudo, ainda existe essas figuras exóticas.
Gostei, viu?
Beijo pra você!
Ira, querida, você estará sempre na minha lista de grandes esperas. Um livro seu dormirá na minha cabeceira. Feto de dor...Que coisa!!!! Simplesmente TUDO esse poema.
Beijos,
o poema sujo
a flor e a náusea
beijo
Iradíssima!
dessas dores de parto
as paredes tremem
no abismo
...
beijo, Ira.
Ira, linda aquariana!
Verso que provoca contração expele Poesia-inteira.
É embrião, semente em parto e reparto.
Beijos para ti e na Valentina!
escrever fotografias... como isso se me faz tão presente e verdade, hoje, iríssima. o mais, apenas vertigem e escalada de versos em revoada pelo ser e pelo tanto que o aproxima do seu próprio negativo fotográfico ou rascunho de escrita.
mão-inteira que me afaga a cada sopro de voz, a tua, ira querida!
O poema é sujo, imundo, sórdido e ao mesmo tempo tão visceral para nossas existências banais. Gostei do blog
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