quarta-feira, 16 de abril de 2014

Domínio Público


No meio da rua
Há um cão desembestado
Entre os dentes,
Mais um dia sem morte
Suas patas são as flores de minha juventude sob o sol

No meio da rua
Há um Sísifo descalço,
Quase astuto,
Empurrando seu castigo até o limite do céu
Sua pedra é minha insônia e sobrevivência

No meio da rua
Há uma beleza violenta
E que pouca vida promete
Quem a toca perde o rosto para Hemera
Seu riso é a serpente que envenena meu seio

No meio da rua
Há um exército sem tórax
Nunca sei o que seus ruídos atingem
Como se fosse granada nos desonra os ossos
Fácil é matar quem já está esquecido

No meio da rua
Um poema
Cede algum coração
Para o próximo


(Para meus amores Tânia Contreiras e Jorge Pimenta)



4 comentários:

Unknown disse...

ira, amiga-poeta-poema,
no meio da rua, em cada esquina, um sísifo a desafiar o castigo com que cumpre a eterna espera, sem esmorecer, sem desistir; no meio da rua, em cada esquina, um sísifo que, para existir, ergue mais alto que a montanha a própria ferida assim despindo palavras quando só os silêncios magoam. e são palavras brancas, palavras frias como o chão que as sustém, trajeto de grito à espera desse deserto por habitar, dessas ilhas por aportar, aí mesmo onde os aguardam frutas e vinho, aí onde os deuses de carne e o osso o esperam mesmo que sem saber voar.

grande tu, grandiosa a tua poesia e a tua amizade!

beijos mil!

Unknown disse...

no meio da rua
tuas palavras urgem



beijos

Cecília Romeu disse...

Ira, minha linda aquariana!
Bela homenagem a esses dois tão especiais!

Não sou poeta, Ira, mas tento viver a Poesia que não sei escrever... e me rendo a tua. Vai escrever bem aqui em casa! :)

Grande beijo e ótimos dias!

Cris de Souza disse...

Que maravilha!

No meio da rua
Há um beco
Chamado caminho

....


Beijos à poeta e aos musos, meus queridíssimos!