Cá estou mergulhada em água breve
E tudo que penso é um não pensar
De fundo, de letras, de lugar
É água que me leva leve longe
outra
E mais sem nome do que puta,
Do que aquilo que ainda virá a
ser:
Susto, filho ou poema
Garras crescendo na placenta
Contagiam todo o feto de vigor
São para fincar no cu do medo,
Com ares de polícia
Ou nas bocas de cobra sem sexo
Que suspeitam de mim aberrações
A vida cresce com focinho
endossado
Até a hora da expulsão
Pessoas me aguardam banal,
Mas minha estranheza é insanável
Cá estou bebendo outra mulher, seus
mitos,
Seus líquidos de guerra e paz
O cansaço do seu sangue irá me
pari
E, aqui entre nós, do lado de
fora,
Onde a proposta é coisa obscena
Melhor é não envelhecer o útero,
As mamas, a criança, o infinito,
E tudo mais que samba nas veias
acordadas
Engravidar, engravidar,
Até que os lábios, grandes e
pequenos,
Sejam íntimos das mãos
Até que os sonhos, grandes e
pequenos,
Entrem nessa festa de doidos e,
sem serem convidados,
Saiam de barriga cheia
Grávidos! Grávidos!
Cá estou saindo da água que não
matou,
Encarando o estio lá fora,
Sem escurecer as vistas para a
paisagem insuportável
A do ser monstruoso que nos
habita,
O mesmo que nos espreita, chorando
chuvas de melado
É que quem não chora, certamente,
leva tapa na bunda
8 comentários:
Nunca aguardo banalidades aqui...mas sempre me surpreendo com a infinitude dessa paisagem interna, mutável, sem perder o eixo, a essência. Parabéns à poeta, que amo, e ao ser onde ela faz morada. Vida longa e plena! Que venha seu livro, que ando tanto querendo ter.
Beijos,
Que contes muitos, querida! Com muita saúde e junto de quem amas.
Beijos
tu és única, tal como a tua escrita
a Tania tem razão, és infinita
eu acrescento o Universo só não te faz juz
beijo
quando as águas vertem
abrem-se rios na pele
beijo e uns felizes tudos
Me perdi com as datas Ira e nem feliz aniversário te dei. que mancada minha.
mas parabéns, mesmo! sei que você é desses que comemoram qualquer felicidade e gosto disso.
gosto de você inteira e te quero muito bem.
um beijo grande, mais anos, mais felicidade, mais poesia e mais todo esse ser carnal que você está mostrando.
beijão!
Oh Ira, linda aquariana!
Só uma poeta do teu calibre pode ser tão certeira em seu próprio aniversário :) e aqui fala de sentimentos universais e quantos aquários de placenta ou de mundos d'água ainda estamos inseridos, por opção ou falta dele?
Fiquei pensando tanto coisa que preencheria uns 10 comentários, então, além de um feliz aniversário, novamente te desejo, com muita sinceridade, mesmo que com alguns dias de atraso (no face fui pontual!), também me congratulo por um dia ter pisado meus pés no teu blog, e por estar te conhecendo, mesmo que virtualmente, alguém com uma energia tão boa, alguém tão para frente que me sinto bem quando, de algum forma muito louca que é essa vida virtual, compartilhamos aqui e ali nossa presença, eu e tu.
Beijão, minha linda!
Sempre estarei aqui, mesmo que não comente em todos, pois é uma honra para mim ler-te e viver-te pela tua poesia!
Realmente, teus escritos são de certa forma interessantes. Bem, isso é que é ser isento de preocupações nas construções literárias, de ter um campo livre e assumir uma faculdade quase sem restrições!
Muito bom...
Grande abraço.
a água que ora assinala a vida, ora a esconde algures nesse infinito breve que a todos escolhe e encolhe. o pior de tudo é mesmo quando o predador chega e da água guardamos apenas o oxigénio e a memória do que fomos.
um beijo, querida amiga aniversariante na data mas sempre e invariavelmente de parabéns!
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