segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Apenas uma Questão de Olhar




O cubículo é aparentemente monótono,
Porém, pelo mesmo aspecto, intrigante
Arrasto os móveis e há longas horas a espreitar-me
Com olhos de quem sabe esquecer
Os escorpiões fingem-se de mortos
Como se acreditassem no meu suicídio
Rodeia-me o fogo e não nego o balé da alma
Dança, chama!
Dança!
Chama!
Alta, não! Essa dor vã do ansiar blefa
Outra dor, ordinária e menor que minha estatura, essa sim!
Nasce com a carne e seu hálito morno não é a nossa maior estupidez,
Mas é, sobretudo e definitivamente, o alimento de sobrevivência
Fecho os olhos e tenho confusões que toda alma da terra não explica
E sou toda alma da terra, com seus cansaços incaláveis,
Interrogando-me em intervalos de uma morte a outra
Fecho os olhos!
Não por uma questão dos olhos abdicarem realidades,
Mas por questões minhas de vivê-las, mais e concretamente,
No melhor lugar dos absurdos
Este espaço, mínimo, é tudo que necessito do mundo,
Não para estar no mundo – o que seria submeter-me a viver
Apenas minha própria vida – mas para sê-lo, em todo seu tamanho,
Mundo de terras, céus e gentes
Sou, antes de tudo, paisagens que se desdobram em outras paisagens e,
A cada pensamento ou palavra, minha extensão dói, naturalmente,
A dor dos astros

8 comentários:

Unknown disse...

as dores pairam no orbe
em órbita


beijo

Tania regina Contreiras disse...


Não, ninguém antes me falou da dor dos astros. E, no entanto, ela sempre pulsou. Você, o indizível que diz, e eu... Espantada.

Beijos, Ira!

Enigmático Byjotan disse...

Explicitamente nua na revelação das palavras certas.Gosto do tema e da abordagem inteligente.Beijo do amigo de sempre.:-BYJOTAN.

Cecília Romeu disse...

Ira, linda aquariana!
As dores dos astros não são míopes, e há extravios para quem sente em órbita.

Beijos!

Unknown disse...

ser terra, cansaço e superação nos cubículos da alma, da dor e do que não teremos, invariavelmente nos "intervalos de uma morte e outra" - nada. e segue.

beijinho, poeta das mil e uma viagens (ao interior do que de mais recôndito tenho).

Américo do Sul disse...

Tudo o q conspira
respira entre a dor
do necessário vazio
e a realidade absurda
q abusa e se alimenta
da ilusão do amor.
Viver é decifrar o olhar...

Sempre bom passar por aqui.
Beijos, poeta...



dade amorim disse...

Essas viagens que vc apresenta em sua poesia são maravilhas que é preciso ler, Ira!

Beijo beijo

Marco disse...

Aludes em versos, dimensões outras vidas. Isso inquieta a alma poética, como inquieta a minha... Penso, viver cada momento, mas o pensamento viaja, eternamente... Lindos versos, profunda reflexão... Aplausos!