domingo, 15 de setembro de 2013

Preamar






Bebi o mar, desde sempre,
Como um barco indisciplinado que,
Ignorando ventos e vagas histéricas,
Mata sua sede no extraordinário
Jamais esqueci o gosto do espanto,
A vida dos mortos que lembra meu sangue,
E essa constante sombra robusta que arrasto.
Vivi-o, suas iras e carícias,
E era ele, desde sempre, meu espírito azul
Evocando a multiplicação do insólito
Nosso destino, único e sem desânimo,
Exigia mais que qualquer pedaço de terra,
Firme e entediante.
Vieram ilusões desmedidas,
A vastidão das coisas possíveis,
Praias convencidas do amor sem veneno,
O burburinho dos peixes francos.
Não! Jamais parei esse perigo livre
E contra ninguém, o riso visível do desconhecido.
Recordo, eternamente, aquela boca espantosa que beijei.
O sabor de sal na língua medrada é meu próprio esquecimento.

11 comentários:

Américo do Sul disse...

mto lindo tudo isso...

Fred Caju disse...

Foi com O mar e o canavial / O canavial e o mar do Cabral que amei a palavra preamar à primeira vista. Muito bonito, querida.

Unknown disse...

sal e esquecimento/ o mar / e a imensidão


beijo

ediney santana disse...

"
Bebi o mar, desde sempre,
Como um barco indisciplinado "
Nasci no serão da Bahia, mas fui criado perto do mar, de frente para Salvador.
Lendo esse poema, creio que a arte faz sua função, porque nele me identifiquei, afinal sempre fui também " um barco indisciplinado"

Tania regina Contreiras disse...


Era, saudade dos versos teus, só teus, e só tu.

Beijos,

Marco disse...

Sua forma de escrever, sempre me surpreende... Lindo!

Joelma B. disse...

o espanto não deve cessar!!

beijos, brilhantíssima!!

Cissa Romeu disse...

Ira, linda aquariana!
O teu poema me remeteu a uma série de coisas, mas usando um exemplo bem simples, eu havia dado uma pausa na blogosfera e nem pensei que tão cedo postaria, e aconteceu algo inusitado que me fez postar novamente hoje.
E assim penso ser o mar, num sentido amplo, a expressão máxima de tudo o que é transitório e inusitado.

Grande beijo e te cuida!

dade amorim disse...

Teus poemas são sempre de uma lindeza rara, Ira!

Beijo beijo

Unknown disse...

asas e planuras sobre o verbo a escorrer sangue e esquecimentos. saber-te e lembrar-te é ser-te, ira.

beijos tantos!

Domingos Barroso disse...

não se perde o espanto -
é o outro universo
se confunde
...


beijo carinhoso...