quinta-feira, 7 de março de 2013

Baladinha Efervescente





Lá estava eu, em desalinho, cavando os dias com as unhas. As horas rachavam os sabugos, mas ainda assim resistia.

Temia a completude resignada, essa comodidade do saber-se não era pra mim. Tinha planos inquietos de ser outras, outras, que fossem violadas pelos encantos das surpresas.

Queria me dissolver como uma pastilha efervescente que desconcerta o nariz, em espumas, e borbulhar por contradições sedutoras.

Surgir, verticalmente, feito árvore que cresce cheia de braços únicos e recebe o humor do tempo sobre ela.

Decidi enfiar os pés em promiscuidades e sombras, até descobrir os lírios, o depois seria uma coisa qualquer de asas confiantes.

Faz tempo que o vestido curtinho desejava meu corpo. A seda me embriagava a pele. Experimentei-me nele, ou era outra, não sei exatamente, apenas consenti que as coxas aparentes sorvessem liberdade e olhei-me como se fosse eu o vestido.
Encará-lo com indecência e porosidade era de fato uma aventura deleitosa, como a noite que devora o dia sorrateiramente, pois estávamos nos possuindo em leveza.
Nada parecia ter sentido, assim como a própria vida, como amar a alma de um corpo que não se possui, mas eu era o vestido e não precisava de sentidos pra existir.
Estava múltipla e arrisquei um batom vermelho na boca a saborear um Bloody Mary. Meu sangue grosso de vícios temperava as vontades.
Saí como nunca fui antes, carne tremula das bruxas rasgada em sangria, a tocar o indefinível ser na dança dos que se ausentam.
Merecia-me a canção
Ou a suposta outra que me experimentava?




Em homenagem a essas queridonas mulheres-poetas

8 comentários:

Carolina disse...

Um bloody mary para mi tambem. Feliz Dia da Mulher e por sempre experimentar!

Unknown disse...

verter a sangria dos dias, tantas sedas e sedes


beijooo

Fred Caju disse...

Massa demais. Sabia que sou meio chato com a palavra poetisa? Acho que a Alice Ruiz também.
Meu abraço,
Caju.

Unknown disse...

quantos desses lírios se fazem meus na voz das mulheres-poetas que aqui distingues, ira?

beijos-vos!

Nilson Barcelli disse...

As mulheres merecem poder ser todos os "eus" que dentro delas habitam.
Magnífico texto, a evocar um dia que se devia prolongar pelo ano inteiro.
Ira, minha querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.

Joelma B. disse...

Um brinde a tua lira mais que brilhante!

Beijo, queridona!

AC disse...

Tchiii!!!
ENORME, Ira!

Beijo :)

Tania regina Contreiras disse...

Amada, sabe que demoro um pouco a chegar porque preciso te ler escutando o meu sangue correndo pelos rios de pedras, né? rs Preciso vir, ler e reler e sentir...e...ah! Olha só:
"
Decidi enfiar os pés em promiscuidades e sombras, até descobrir os lírios, o depois seria uma coisa qualquer de asas confiantes.

Isso é qualquer-coisa-de-grandeeee!

Nossa...Poeta, poeta e poeta, isso é que tu é! rs

Beijos,