Lá estava eu, em
desalinho, cavando os dias com as unhas. As horas rachavam os sabugos, mas ainda
assim resistia.
Temia a completude
resignada, essa comodidade do saber-se não era pra mim. Tinha planos inquietos
de ser outras, outras, que fossem violadas pelos encantos das surpresas.
Queria me
dissolver como uma pastilha efervescente que desconcerta o nariz, em espumas, e
borbulhar por contradições sedutoras.
Surgir,
verticalmente, feito árvore que cresce cheia de braços únicos e recebe o humor
do tempo sobre ela.
Decidi enfiar os
pés em promiscuidades e sombras, até descobrir os lírios, o depois seria uma
coisa qualquer de asas confiantes.
Faz tempo que o
vestido curtinho desejava meu corpo. A seda me embriagava a pele.
Experimentei-me nele, ou era outra, não sei exatamente, apenas consenti que as coxas aparentes sorvessem liberdade e
olhei-me como se fosse eu o vestido.
Encará-lo com indecência
e porosidade era de fato uma aventura deleitosa, como a noite que devora o dia
sorrateiramente, pois estávamos nos possuindo em leveza.
Nada parecia ter
sentido, assim como a própria vida, como amar a alma de um corpo que não se
possui, mas eu era o vestido e não precisava de sentidos pra existir.
Estava múltipla e
arrisquei um batom vermelho na boca a saborear um Bloody Mary. Meu sangue
grosso de vícios temperava as vontades.
Saí como nunca fui
antes, carne tremula das bruxas rasgada em sangria, a tocar o indefinível ser
na dança dos que se ausentam.
Merecia-me a
canção
Ou a suposta outra
que me experimentava?
Em homenagem a essas queridonas mulheres-poetas
8 comentários:
Um bloody mary para mi tambem. Feliz Dia da Mulher e por sempre experimentar!
verter a sangria dos dias, tantas sedas e sedes
beijooo
Massa demais. Sabia que sou meio chato com a palavra poetisa? Acho que a Alice Ruiz também.
Meu abraço,
Caju.
quantos desses lírios se fazem meus na voz das mulheres-poetas que aqui distingues, ira?
beijos-vos!
As mulheres merecem poder ser todos os "eus" que dentro delas habitam.
Magnífico texto, a evocar um dia que se devia prolongar pelo ano inteiro.
Ira, minha querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Um brinde a tua lira mais que brilhante!
Beijo, queridona!
Tchiii!!!
ENORME, Ira!
Beijo :)
Amada, sabe que demoro um pouco a chegar porque preciso te ler escutando o meu sangue correndo pelos rios de pedras, né? rs Preciso vir, ler e reler e sentir...e...ah! Olha só:
"
Decidi enfiar os pés em promiscuidades e sombras, até descobrir os lírios, o depois seria uma coisa qualquer de asas confiantes.
Isso é qualquer-coisa-de-grandeeee!
Nossa...Poeta, poeta e poeta, isso é que tu é! rs
Beijos,
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