Quero a destruição das lâmpadas, dos sóis, faróis, olhos, dessas
luzes que tudo sentem
Não me importa a vela acesa que se dispõe vigiar meu defunto
Quero uma parede preta, na escuridão, sem sombras de objetos
Sou um dos mais inúteis dessa casa equivocada e anêmica
Penso em me jogar no lixo, assim, talvez, algum cão vira-lata me
descubra e, achando gostosinha minha
carne, me coma até os ossos fracos
carne, me coma até os ossos fracos
Garantindo, deste modo, calma no estômago por mais um dia e
alguma serventia a essa nossa vida
ordinária
ordinária
Quero estar de cara colada a parede
Passar toda língua em sua mentira, fria, caiada, concreta, de
restrições e defesas, longe dos córneos
daqueles bem orientados e suas tribos
canibais, como se fosse possível acreditar em utopias
Desejo apenas uma parede lisa, sem quadros, boca ou nariz,
Um esconderijo a me poupar idéias medonhas saídas de cabeças
com mandíbulas toscas,
Entretanto, essa paisagem não passa de uma bela concepção
Mas que, por azar dos outros, não impede minha incompetência
humana
De vazar pelo buraco do rato apodrecendo-me cada vez mais de
contato
Impregnando seus desprezos com fragmentos meus
Os estilhaços se confessam dementes diante da arrogância e fissuram
tudo que se imagina perfeito
Cada naco de loucura que os perfura tem um poeta desorientado
dentro
7 comentários:
Insano. Boa construção...
John L.
a dor que morde atirando para os dejetos da palavra o que sobra do corpo, da vida, e das suas malfeitorias.
se já nem o sorriso conhece o rosto quem nos há de roubar a própria morte?
beijo e dois arrepios, querida ira!
Belo.
Tenho notado sua transição de fêmea a fera. Acho que ambas já viviam juntas, mas a outra dava mais a luz. Gostando desse estado de espírito.
Beijo, Ira!
pura iconoclastia, diria
em se tratando de poesia
beijo
De poeta e de louco todos temos um pouco...
Gostei muito das tuas palavras. Excelentes.
Ira, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Poesia tem muito a ver com "cada naco de loucura".
Belo e bem desenvolvido, Ira.
Bj bj
Fui nadando do primeiro ao último verso, respirei nessa última linha, como se tivesse encontrado um ponto de luz, um álibi. ÁLIBI...tua poesia é o meu sempre.
Beijos,
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