domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cabeça Feita






Seu crânio não oculta o buraco por onde entra meu beijo,
Os segredos que dissimulei a vida toda de você
E minhocas de várias espécies.
O furo tem formato de pássaro preso em gaiola.
Empalhado e mudo.
Nem bicho nem ave sentem mais dor.
Hoje você sorri pra mim, riso infindável,
Como nunca sorriu antes o amor.
Diz que lamenta as vezes que o perdoei
Quando meu desejo virava a esquina sumindo de vista
Como só uma mulher e sua bolsa roliça de pecados sabem desaparecer.
Olha querido, de qualquer modo, ainda somos os melhores estranhos
Dessa noite interminável.
É que jamais deixei de voltar fácil.
Você esperando minhas pernas abertas, tão piedosas,
Louco por pelo menos um suicídio da boceta em seu pau
Sonhando triste, carregando um piano de cauda nas costas,
 Enquanto minhas mãos equilibravam nossos pesadelos bem merecidos
As janelas são sempre fechadas, e vedadas com medo, para impossibilidades
De vazamentos escandalosos saírem às ruas gritando
Sinal de sua barba de molho entre o revólver e o desinfetante.
Veja bem! A última nota da canção nos abandonou
No dia em você me acendeu, e fumou, até o fundo do fim
As cinzas ainda queimam vivas, agora, no seu melhor sorriso,
Esse aí, molhado do meu sangue impulsivo.

9 comentários:

Tania regina Contreiras disse...


ô, Ira, como esse verso diz tanto: "De qualquer modo, ainda somos os melhores estranhos"... Você sempre traduzindo o intraduzível! Beijos

Domingos Barroso disse...

você é formidável,
formidável
...

beijo.

Unknown disse...

Denso! Perfeito! Não há como não voltar fácil!

Cissa Romeu disse...

Ira, lindona!
carregamos sempre algumas coisas, de certa forma, e as cinzas de outras tantas sempre ficarão a arder, e se somos eternos estranhos,os dois, impossível apagar com a água todos os fogos que ardem apenas num único "sorriso" estranho, e estranho para sempre.

Beijão, moça compositora!
Adorei teu comentário por lá, fiquei pensando se você tem algum registro em gravação, de alguma música tua para postar.

Marco disse...

Terno, ao mesmo tempo visceral. Oriundo de um realismo presente, palpável. Aplausos amiga!

Cris de Souza disse...

Um escândalo!

Tua lira faz a minha cabeça.

Beijo, Poeta Irada*

Nilson Barcelli disse...

Mais uma vez me rendo ao teu saber poético, pois este poema é excelente.
Ira, querida amiga, tem uma boa semana.
Beijo.

Unknown disse...

nestas tuas baladas desencontradas eu tanto me acho, tanto



beijo

Unknown disse...

quando as tuas palavras beijam por dentro do tempo cada uma das minhas bocas.