quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Luvas para Dedos Suicidas





Se ele entrar em ti, Mulher,
Como um pássaro cego batendo na pedra,
Tantas vezes, até a inércia das asas
E se reinar dentro da sua carne,
Como qualquer Deus, perverso e indiscreto,
Dominando serpentes petulantes
Se esse homem engolir seu veneno grave,
E, contudo, não temer as reviravoltas
Das veias em escândalos
Saiba que seus corpos desabotoaram a túnica do tempo e,
Num descuido das horas severas, despiram a eternidade
Juntos tomaram esses instantes breves,
Pelos longos cabelos das estações,
Para que a tola inocência do desejo se perpetue
No céu que ouve promessas
Ah, esses amantes que atam nos olhos rastros de nuvens!
Faça-se, então, a comunhão dos líquidos salgados,
Homem e mulher desafiando a verdade.
Faça-se a inoculação dos sangues, já tão emaranhados,
Até envelhecerem os fôlegos,
Que esse homem, prestes a morrer,
É mão nua a meter-se na luva repleta de escorpiões
Que aguardam transtornos e suicídios
Ele sabe que depois da morte
O amor perde os dez dedos das mãos
E tudo repousa inevitavelmente 

5 comentários:

Unknown disse...

os longos cabelos das estações:

eriçam a pele na ponta dos dedos
nem o medo escapa a este segredo




beijo

Audrey Andrade disse...

De tirar o fôlego, Ira! Como sempre, lindo!!!

Meu carinho!

Marcelo R. Rezende disse...

Lindo,
gosto tanto quando o desejo ultrapassa quaisquer barreiras e ganha forma.

Beijo, Ira!

Tania regina Contreiras disse...

Ira, este ano é o o ano dos lançamentos da blogosfera! :-) Nossa, eu quero muito e muito ter um livro seu. Vou estar na frente da fila. Você não imagina como gosto de te ler!
Beijos,

Unknown disse...

"o amor é ter medo e querer morrer"

j.l.peixoto


arrepiante, porque belo. inquietante, porque tão verdade quanto a loucura que ensina o que devemos começar a aprender a esquecer.

beijo-te as mãos ainda com o gelo a espreitar-me pelos cantos do arrepio.