Tentaram confinar-me na casa de quem me despreza
E até cavaram um poço profundo, dez vezes minha estatura
Submeteram meu espírito ao vexame, quando aviltado,
Diante do sol e da lua
Distanciaram-me, todos, da minha própria face,
Aquela que suposta nunca é
Surrupiaram-me, eles que são enguiço, os espaços, os risos, os nervos,
As cores das roupas que despia frente aos oráculos
Porém os dias de loucura se aproximam
E que ninguém ameace recolher-me
Serei a louca dos gatos!
Espalhada nos telhados dos vigias e, com minhas afeições
expostas,
Nenhum cão haverá de abocanhar meus calcanhares
Soprarei idéias nas cabeças confiantes,
Essa fala sossegada, a linguagem dos gatunos,
Apenas acenos que perpassem os olhos,
Sem constrangimentos e verdades absolutas,
Apenas poemas, alguns irão machucar, outros serão alívio,
Que após o canto não mais me pertencerão
E serão outras coisas, como pássaros, oceanos, dedais,
livros,
Porém não cresçam com pretensões de saber-nos:
Eu, gatos, poemas
Eu, gatos, poemas
Somos, todos, ilusões confundindo os sentidos dos homens,
Nas suas expedições fracassadas em busca da ilha inteligível
Deixarei as coisas inúteis nos seus devidos lugares
E ganharei as ruas com meu saco de gatos e mistérios
Ah, os dias de loucura se aproximam!
9 comentários:
Ah, eu espero o meu dia e os meus bichos tantos, que venho aprendendo a dar vozes. O poema é estupendo e imagino o dia do livro em minhas mãos. A propósito, o nome do teu blog é um poema maravilhoso!
Beijos,
Palmas!!!!
Muitas palmas!!
beijos!!
Estou aqui, minha poeta do caraças, ando fugida e mais calada ainda...
Falta de tempo, falta de mim mesma, em luta com a escrita
É a minha vez
Bebo do teu copo e também eu sou gato que passa e tenta passar
beijinho
Instigante poema, ao traçar uma linha entre o desvario de incoerências humanas e uma sanidade precípua, inteligível... Ótimo!
Há muita lucidez na loucura. O Eu suporta bem mais do que todos os gatos, poemas e ilusões. Que venham sempre os dias de loucura criativa e inspiradora.
o poema e essas outras coisas em que se transformam e fogem de nós,
beijo
Um poema com jeito de desafio. O que deixa a gente mais empolgada é o modo como esse desafio altera o rumo da suposta loucura anunciada e prestigia uma sanidade capaz de salvação.
Beijo, Ira.
Cae alegre e entusiasta,
gato misterioso e indomavel
Locas noites de sol e luna
Me traem a casa de a grande Ira,
mulher atenciosa e poeta sensivel.
cães e gatos, abismos no trajeto, a mesma sina na essência: ambos caminham à chuva.
beijo!
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