segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Face de Uma Noite Clara





Dê-me, amigo, o gosto desta noite clara que já não recordo
E aqui, sozinha, provarei o sangue da placenta
Logo o bebê chore este mundo pra gente ouvir
O copo está sujo, coisa sem a menor importância,
Eu também, mas é que pertencemos ao pó de uma estrada longa
E, de passo em passo, a poeira foi nos moldando
Bebo as lágrimas do parto de outra mulher,
Sangue de tão vermelho que é dádiva,
Sozinha e corajosamente aceito esta dor, a dor da dádiva,
Pois é preciso ser, apesar de
Bebo sem testemunhas, sem interrupções,
Ninguém bate a porta,
O telefone não chama
Todos estão inventando existências melhores
Do que encarar uma mulher sozinha entornando sua alma
Numa casca de árvore.
Mas se ninguém me inventa, como existir?
O que estou fazendo dentro da própria entranha?
Dane-se! Há coisas mais estúpidas saltando aos olhos,
Do que as questões de uma sombra vulgar
Sei do inevitável, das cinzas, e pronto!
Não tenho medo, apenas saudade
Dê-me, amigo, uma única dose desta noite, na veia,
O soro da infância eterna,
Que hoje estou mais sozinha do que nunca
E tão grávida

Aos amigos, que compartilham o sabor da poesia, beijos, meu desejo de uma humanidade mais responsável e amorosa. Boas Festas!

22 comentários:

dade amorim disse...

Tantas coiss saltam aos olhos, é difícil às vezes distinguir com clareza tudo que acontece.

Ira querida, que esses dias te tragam amor, amizade, alegria e paz.

Beijo beijo!

Unknown disse...

Palmas.
Muitas palmas.
Beijos!!

Carolina disse...

Saudades... hermosa e nostalgica poesia navideña, Ira. Eu desejo lo mejor do mundo para voce, amiga. Sempre em mi mente e coracao, desde Buenos Aires, Feliz Natal!

Nilson Barcelli disse...

A excelência da tua poesia é uma constante.
Parabéns por mais esta pérola poética.

Ira, querida amiga, desejo que tenhas um Feliz Natal, extensivo aos que te são mais queridos.

Beijo.

Jota Effe Esse disse...

Bebo a taça amarga da indiferença. Que mais querem? Que morra, pra me esquecerem de vez? Lamento, mas eu quero viver, por isso nasci ontem, 24 de dezembo de 2012! Meu bijo.

Unknown disse...

"estou sozinho de olhos abertos para a escuridão. estou sozinho. estou sozinho. e nunca aprendi a estar sozinho. estou sozinho. sinto falta de palavras. estou sozinho. estou sozinho. sinto falta de uns olhos onde possa imaginar. estou sozinho. sinto falta de mim em mim. estou sozinho. estou sozinho. estou sozinho."

josé luís peixoto

beijo, ira!

Nicast disse...

Grávida de nós mesmos, quantas vezes?

Muitos partos, muitos renascer em 2013!
Gostei de tua poesia.
Bjo.

Unknown disse...

"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."
Clarice Lispector

Lindo poema, dialogou com algo meu profundo.

Ira, uma linda passagem de ano e que 2013 seja prenhe em inspirações

um enorme beijo

Dilmar Gomes disse...

Amiga Ira, lamento o contratempo ocorrido no blog Faces do Poeta.
Agradeço aqui tuas palavras carinhosas lá no meu modesto espaço.
Desejo-te um lindo e maravilhoso Ano Novo.

AC disse...

Ira,
Para além de inspiração, que 2013 envergue sempre roupagens de esperança!

Beijo :)

Marcio Nicolau disse...

Cuidado!

Nós somos gestantes da alma... Cuidado!
É preciso muito, muito cuidado
para que a alma possa nascer normal na outra vida.
Nesta, ela mal pode, ela quase não tem tempo de ficar pronta!
Como é possível, com esses cuidados e mais cuidados sem conta.
Ah, toda essa vergonha de sermos devorados
_ meticulosamente_ por milhões de ratos
durante sessenta, setenta, oitenta anos
quando bem poderia surgir de súbito o nobre leão da morte
na plenitude nossa
como acontece com os heróis da Ilíada,
mas os heróis só morrem _ no País da Ilíada _
belos e jovens...
Aqui qualquer heroísmo se desmoraliza dia a dia
como a barba do Tempo arrancada, fio a fio, das folhinhas...
Como é possível, como é possível uma alma triturada
assim pelos relógios?
Como é possível nascer com um barulho destes?

Mais um de Quintana. Beijo grande! 2013 já está aí.

Paulo_Sotter disse...

Oi Ira, passando para te desejar um ano novo de muita paz e saúde, pleno de realizações. Feliz 2013!!!

Jasanf disse...

Ira, hoje que descobri que você tinha começado a postar magnificamente em outro blog. Estava com saudades do seu texto. Também sumi devido aos estudos acadêmicos e ao trabalho excessivo. Agora estou de férias... Adorei seu texto e seu novo espaço das letras, das artes e das façanhas literárias...
Feliz 2013!

Jasanf disse...

Voltei a escrever aqui... Adorei o visual desse espaço literário! Estive ausente devido ao trabalho e ao mestrado... Espero ter muitas inspirações neste ano ímpar e repleto de mistério a ser desvendado...

Fred Caju disse...

Acho que já te falei uma vez. Odeio poema limpinho demais. Eis aí versos que honram a essência de um beco. Beijão.

LauraAlberto disse...

Sua poeta do caracas, que a tua voz nao se cale, que a solidao nao te suma, que a tua taca esteja cheia ...

Que a vontade nao te falhe..

Os sonhos, a vontade nao serao nados mortos, jamais.

Beijinho

Anônimo disse...

Tão, mas tão forte e denso e inevitável!

É muito bom compartilhar o poesia contigo, Ira!
Que em 2013 façamos isso mais vezes.
Beijos!!!

Suzana Guimarães disse...

Em nossas noites claras visualizamos melhor, embora tristemente, nossa escuridão de sermos no final de tudo, ou mesmo por todo o tempo, solitários.

Beijos,

Suzana Guimaraes - Lily

Tania regina Contreiras disse...

Ira, voltando do recesso e te procurando. Me procurando. Me curando. Me dizendo pela tua boca. Que as renovações venham em cascata, sempre. Morrer sempre, pra renascer sempre.

Beijos,

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Passando para deixar o meu primeiro beijinho deste ano que está a começar e que desejo que seja de muita paz e amor, junto de todos que amas.

Sonhadora

Unknown disse...

Se ninguém se inventa, existir é uma questão de gestar-se.
Amei cada verso.
bjs

Cris de Souza disse...

Um parto e tanto! Continua a espantar-me...