Aqui estou a praticar olhares e, neste congá de flores e
insetos,
A cegueira cresce como erva daninha,
Já surrupiando as formas ocidentais dos olhos.
Espalhando neblina sob pálpebras indecisas,
A cada mês, ano, década
- Vivemos de suspeitas!
Ajoelham-se, os santos, os prudentes, aos meus pés desnudos e,
Com vidraças nos ombros, querem o pão e o vinho.
Querem salvar suas casas, seus argumentos,
Sobretudo, suas peles e tudo mais que não lhes pertence
- Eu choro e eles desconfiam!
Acocorada em meu altar, onde cupins destroçam o manto,
O tédio das virtudes não permite paz à boca,
Além do bruxismo, das náuseas.
- Ainda bem que não durmo!
Assim, indormida, há noites em que fujo ratazana,
Como esta que me faz espreitar ruas,
A procura de motivos para beijar mãos.
Entro no saguão de um hotel barato,
Nos botequins miserentos, no universo das sombras,
Em todos os lugares que se guardam anjos
E reconheço suas asas agoniadas sob as vestes,
Algumas enfermas já sangram
- Benditos sejam os embriagados de versos,
Os que dessecam seus cérebros,
Os que caem desvalidos no bagaço do beco,
Os que morrem no corpo do outro,
Os que se atrevem a tocar o amor
Recolho deles, lágrimas, suores, todos os líquidos de dor
E deposito nas caldeirinhas.
- É necessário renovar o estoque de água benta,
Pois, há muitos santos sonhando com o céu!
6 comentários:
Um lúcido olhar envolvente pleno de mordacidade...
Você é única, Ira!
Beijo :)
Ah, Ira, os teus versos, os teus versos...Bentidos sejam os embriagados de versos e os que se atrevem a tocar o amor, amém!
Beijos,
OLA IRA BOA TARDE. CASUALMENTE ENTREI EM SEU BLOG, E APAIXONADA COMO SOU POR POESIAS NO RESISTI EN SEGUI-LA, POIS ENCANTOU-ME SEUS POEMAS. ABRACOS!
Você é muito original, Ira, e é uma beleza ler seus versos.
Bjsss
santos sonhando com céu: eu lembrei do Capinam: os anjos tem o sexo amputado,
beijjo
Excelente.
Do princípio ao fim.
Este poema é um dos melhores que já li teu.
Beijo, querida amiga.
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